Troca de papéis: mulheres no trabalho e homens em casa
Dados do IBGE apontam crescimento no número das brasileiras que trabalham fora de casa
A atuação da mulher no mercado de trabalho e sua posição como chefe de família aumentaram, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). E esse crescimento vem desde 1960, quando a mulher passou a ter direitos trabalhistas, assim como os homens. Essas mudanças ocorrem cada dia mais e, segundo o IBGE, o número de mulheres que chefiam suas famílias quase dobrou entre os anos de 2000 e 2010. No ano 2000, o número de mulheres que chefiavam suas famílias era 9,048 milhões. Já em 2010, o dado sobe para 18,617 milhões. O trabalho feito por elas dentro e, principalmente, fora de casa, tem chamado a atenção da sociedade.
Os dados da pesquisa do IBGE levam a sociedade a fazer uma velha pergunta: as mulheres são capazes de fazer as mesmas coisas que os homens? Para Thiago Oliveira, técnico em manutenção, a resposta é não, “pois existem funções que dependem de muito esforço físico e as mulheres não conseguem executar com a mesma qualidade e desempenho”. Assim também existem áreas em que os homens não conseguem desenvolver o trabalho com a mesma qualidade das mulheres, devido às particularidades dos sexos. Porém, na prática, hoje existem muitas mulheres exercendo funções tidas antigamente como próprias ou específicas de homens no mercado de trabalho. Nem na construção civil, por exemplo, área em que o trabalho exige força, um dos quesitos de maior diferença entre o homem e a mulher, elas se intimidam. No geral, a mulher é sempre considerada dona de casa e mãe, mesmo desempenhando outros papéis no mercado de trabalho.
Porém, a troca de ofícios não é uma realidade para todos. Thiago diz que não aceitaria o fato de sua futura esposa sustentar a casa, assim como também não deseja que ela fique só dentro de casa, pois a falta de produtividade profissional a deixaria suscetível a ociosidade, causando um desconforto na vida pessoal e um stress pela vida não profissional.
Inversão de valores?
A mudança nos ofícios acontece porque cada vez mais as mulheres querem se destacar na vida profissional. Assim, elas buscam por formação superior ou técnica, uma vez que esses níveis de escolaridade as ajudam tanto na vida profissional quanto na pessoal. Isso porque seus graus de entendimento e de estímulo ajudam a resolver conflitos familiares e no trabalho. Na vida familiar, o que antes era considerado motivo de piada entre os homens que tinham afazeres domésticos, hoje é motivo de vantagens entre eles. Muitos homens que passam por essa situação gostam de se sentirem por conta de casa e de sua esposa. Para o aposentado e “dono-de-casa” Sebastião Francisco Moura, 60 anos, não há vergonha nem constrangimento de sua esposa colocar o alimento na mesa. Ele diz que prefere ficar em casa, arrumar tudo, assistir às novelas e aos programas de esporte.
Já sua esposa, Selma Moura, de 55 anos, afirma que nunca gostou dos afazeres domésticos e acha que o marido os desempenha melhor que ela. “Nunca gostei de fazer o serviço de casa, como lavar e cozinhar. Sebastião cozinha, lava, passa melhor que eu. Sempre encarei de uma maneira positiva essa troca de papéis”, conta. Endossando a satisfação do marido com os afazeres domésticos, ela relata satisfação em arcar com as despesas do lar. Seus filhos, que estão casados, acham normal o pai desempenhar essas funções domésticas. Selma diz que suas amigas falam que queriam um marido como o dela, só para quando chegarem em suas casas e estar tudo pronto: jantar, casa arrumada, e ainda assim ter um esposo cheiroso esperando por elas. Mesmo com essa “diferença”, o casal se encontra junto há 25 anos e a cada dia mais apaixonado.
A participação da mulher no mercado de trabalho cresce em diversos segmentos, inclusive nos cargos de direção em grandes organizações. Em relação à área de atuação, elas apresentam maior participação em Recursos Humanos, Educação e área Administrativa. Já as áreas de Tecnologia, Industrial e Engenharia, por sua vez, continuam sendo as áreas com menor índice de atuação feminina. O fator principal dessa diferença é que existe uma ideia de que homens se saem melhor em tarefas que envolvem cálculos, enquanto as mulheres são melhores em habilidades relacionais.
Conquistas femininas
As mulheres provam, a cada dia, que de “sexo frágil” elas não têm nada. Desde a Primeira Guerra Mundial, elas não vêm se destacando somente no mercado de trabalho, mas também tendem a buscar a igualdade em todos os campos e espaços. A trajetória não foi fácil, mas hoje elas provam que as lutas e as perdas de suas antecessoras não foram em vão. Um exemplo disso é Andréia Aparecida Pereira Corrêa, habitante da cidade de Cláudio. Devido a dificuldades enfrentadas dentro de casa com o marido, e preocupada com a situação na qual encontrava seu lar, saiu em busca de trabalho e há 11 anos trabalha em uma casa de fundição do município. É uma atividade que exige muito esforço físico e psicológico e, na maioria das vezes, é exercida por homens. Além desse ofício, ela continua com suas atividades dentro de casa, tendo ainda tempo para o lazer e de conversas com os filhos. Ela afirma que o fato de trabalhar fora não quer dizer que ela não sabe o que se passa dentro de sua casa. Pelo contrário, ela está atenta a tudo que acontece e sente-se a chefe do lar, pois, além de mãe, esposa e dona de casa, ela traz o sustento para sua família.
O que antes era considerado uma mão de obra barata e que não tinha muita valia para a sociedade, hoje faz toda a diferença. Um exemplo claro disso é que o nosso país tem como governante uma mulher, que não é a primeira do mundo a ocupar o posto, mas é uma das que mais vem se destacando. Desde o inicio de 2011, quando assumiu o cargo de presidente do Brasil, Dilma Roussef é considerada uma figura respeitada no mundo todo, devido a suas realizações e conquistas. Em uma frase ela fez o seguinte enunciado: “Em condições de poder, a mulher deixa de ser vista como objeto frágil e isso é imperdoável. Aí começa a história da mulher dura. É verdade: eu sou uma mulher dura cercada de homens meigos”. Mesmo parecendo ser uma mulher rígida, ela não perde seu lado feminino. Recentemente isso foi notado em um acontecimento, quando Dilma mudou a data de um comício em São Paulo para ver o último capítulo de uma novela, que ela afirmou ser fã.
Disparidade salarial
Embora as mulheres vêm ocupando espaço, se destacando no mercado de trabalho e cada vez mais ganhando o mundo, elas ainda sofrem preconceitos. O IBGE indica que existe diferença salarial entre os sexos: o salário das mulheres equivale a 72,3% do salário dos homens ao exercer a mesma tarefa. Mas algumas mudanças já vêm acontecendo nesse sentido. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking dos países em que mulheres gerenciam uma empresa de grande ou pequeno porte. Outro dado relevante é que a maioria dos homens que ajudam nas tarefas domésticas são os que possuem maior nível de escolaridade, o que é o inverso no caso das mulheres, e mostra que estes homens tendem a ter menos problemas psicológicos e cardíacos.
Apesar das mulheres buscarem o mercado de trabalho, em muitos lugares elas enfrentam dificuldades pelo baixo nível de escolaridade. Este é o caso das mulheres nordestinas brasileiras, que têm o menor índice de presença no mercado de trabalho. Já no Sul do país encontra-se o maior número de mulheres que têm jornada dupla: tanto em casa, quanto no mercado.
Desde crianças as mulheres já são criadas fazendo trabalhos domésticos, inclusive nas brincadeiras. No entanto, dados apontados pelo IBGE mostram que os meninos também já estão aprendendo estas tarefas. No país, 109,2 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade declararam realizar tarefas domésticas. Deste conjunto, 71,5 milhões (65,4%) são mulheres e 37,7 milhões (34,6%) são homens. Isso já mostra uma realidade diferente: como as mães de hoje quase não ficam em casa, elas estão ensinando seus filhos a realizarem os afazeres domésticos.
O que para as mulheres são hábitos que se aprendem desde criança, como lavar uma louça, para os homens estas atividades começam a ser praticadas, na maioria das vezes, depois da aposentadoria ou quando começam a tomar conta das casas. Apesar disso, muitos ainda não aceitam tal realidade, se sentem envergonhados de realizarem essas tarefas e serem tarjados por aqueles amigos machistas de “mariquinhas”. Outros ainda acham que tomar conta de uma casa os torna inferiores às mulheres ou mesmo se sentem incapazes de cuidar de uma família. Por outro lado, há aqueles que adoram esta situação: gostam de cozinhar, lavar, passar e não veem como problema deixar que a mulher sustente a família. Algumas pesquisas apontam que a maioria dos homens está cansada de arrumarem carros, por exemplo, mas ainda praticam estas atividades porque a sociedade criou este estereótipo.
A decisão de quem cuida da casa deve ser tomada pelo casal, de forma que nenhuma das partes saia prejudicada. No entanto, muitas barreiras ainda precisam ser vencidas e o preconceito ainda é grande, pois grande parte das mulheres que trabalham fora de casa ainda tem o salário inferior ao dos homens. Para acabar com essa diferença, está em tramitação no Senado o Projeto de Lei (PLC 130/2011) que prevê multa à empresa que pagar salário inferior para a mulher quando ela realizar a mesma tarefa que um homem.
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Reportagem produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Pitágoras Divinópolis/MG: Haylana Sena, Paula Rocha, Thaynara Faria e William Pereira (3º período)
Fotos: Internet
Edição e Supervisão: Professor Ricardo Nogueira (MG 11.295 JP)